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quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Poema da eternidade


Poema da eternidade
Moro num corpo que não é meu
Alugo o tempo, as tripas e o coração
Defeco, amo e odeio
Esta é a minha condição.

Vivo num espaço que não é meu
E às vezes, eu sou ateu
E quase sempre sou de ninguém.
Mas afinal quem sou eu?
Eu que me observo e não sou eu
Eu, habitante de um corpo que não é meu
Nada é meu.

Nem o devaneio que acabei de fabricar
com as sombras e o breu da noite
Nem é meu este resto de sol
E nem é meu o brilho do olhar da mulher
que me escolheu
Muito menos o zumbido das moscas
que sonorizam estas tardes de verão.

Moro num corpo que não é meu
Morro num corpo que não é meu

E qualquer dia
Depois de amanhã(se amanhã houver)
O corpo é teu
O corpo é teu
Ó terra profunda e maldita
que dás a vida e hospedas a morte
O corpo é teu
Ó terra traidora e bendita
O corpo é teu.

E quando eu for o adubo da terra
Viverei para sempre
Nos sulcos das folhas
Na seiva dos caules
No perfume e no sangue das rosas.

Eu serei da terra
Eu serei a terra
Estarei vivo
Nas avalanches
Nos terremotos
Nos vulcões
e nos maremotos.

A Eternidade não transcende a terra
Deus não mora no céu
E as estrelas que cintilam lá no alto
não são para mim.

A Eternidade
Tem a idade da terra
A Eternidade é a terra
A terra é eterna.

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