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terça-feira, 30 de junho de 2015

Xénos

Há pássaros africanos na América
  
Não há sol
Mas é verão

Daqui eu vejo o mar
O mar tem o azul e o meu agrado
Tem doçura  e é salgado
Tem mistério e é sagrado

As ondas rabiscam na areia
a sua mais nova canção

Procuro voz humana
Escuto palavras em preto e branco

Consulto o tempo
Os ponteiros do meu relógio
estão repletos de bactérias de solidão

Olho à minha volta
e até sinto falta de mim

Rio de Janeiro, 21 de Janeiro 1992

sábado, 27 de junho de 2015

Zénite

Quando eu morri
Eu descobri muita coisa
Descobri que a terra era fresca
e que era ali que eu teria de PERNOITAR
Descobri que o Paraíso tinha o meu tamanho
e era feito de madeira
Descobri que no Inferno só cabia eu.

Quando eu morri
Descobri que os vermes eram anjos
mas não sabiam voar
Descobri que deus e o demônio eram uma única coisa: eram um invento assimétrico da condição humana.

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Quando eu morri
Descobri que a eternidade era podre
e cheirava muito mal.

Lisboa, 25 de Março de 1991