.

.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Reincidências


Faço a mesma barba
O mesmo xixi
O mesmo sorriso
O mesmo ih! ih!

Bebo o mesmo café
A mesma lágrima
O mesmo  " Pois é"!

Esbofeteia-me o mesmo vento
O mesmo sol
O mesmo tempo

E leio a mesma notícia
No mesmo jornal
Com o mesmo crime
Com a mesma polícia

Paro no mesmo sinal
Na mesma rua
No mesmo mal

E vejo o mesmo Zé
Na mesma esquina
Com o mesmo porre

E encontro a mesma mulher
Sem os mesmos dentes
Sem a mesma mínima
pouca vergonha

Espirro o mesmo atchim
Sofro do mesmo rim
E mesmo assim
É mesmo assim.

sábado, 16 de janeiro de 2016

Consummatum est

Nada é novo
Todos me julgam
E eu não tenho culpa

Estou muito longe do Rio
que me ofereceria 
um mergulho Redentor
E muito perto do atalho
da minha decisão

Cedo e me rendo ao silêncio
e à vergonha dos desertores
Detesto as Vitórias
e a fabricação dos Heróis

Fecho os olhos
Tampo os ouvidos
Reduzo o choque
Amorteço a minha Condição 
E espero.

Lisboa, 5 de Novembro de 2005

sábado, 9 de janeiro de 2016

Apenas


Há cobras nos meus sonhos
e fendas nos meus desejos
Há água na minha boca
e líquidos nos meus anseios

Há vaginas desertas
como oásis secretos
do outro lado dos meus pesadelos

Não quero mais a felicidade
Quero um corpo livre e incompleto
para o meu

Não quero mais a felicidade
Quero a língua viperina
e a boca vermelha
de baton e de ilusão
de todas as mulheres

Não quero mais a felicidade
Quero porque quero
Aberturas e sutilezas
Gritos e procuras
Gemidos e sussuros
e um orgasmo no final.