Faço a mesma barba
O mesmo xixi
O mesmo sorriso
O mesmo ih! ih!
Bebo o mesmo café
A mesma lágrima
O mesmo " Pois é"!
Esbofeteia-me o mesmo vento
O mesmo sol
O mesmo tempo
E leio a mesma notícia
No mesmo jornal
Com o mesmo crime
Com a mesma polícia
Paro no mesmo sinal
Na mesma rua
No mesmo mal
E vejo o mesmo Zé
Na mesma esquina
Com o mesmo porre
E encontro a mesma mulher
Sem os mesmos dentes
Sem a mesma mínima
pouca vergonha
Espirro o mesmo atchim
Sofro do mesmo rim
E mesmo assim
É mesmo assim.
Nada é novo
Todos me julgam
E eu não tenho culpa
Estou muito longe do Rio
que me ofereceria
um mergulho Redentor
E muito perto do atalho
da minha decisão
Cedo e me rendo ao silêncio
e à vergonha dos desertores
Detesto as Vitórias
e a fabricação dos Heróis
Fecho os olhos
Tampo os ouvidos
Reduzo o choque
Amorteço a minha Condição
E espero.
Lisboa, 5 de Novembro de 2005
Há cobras nos meus sonhos
e fendas nos meus desejos
Há água na minha boca
e líquidos nos meus anseios
Há vaginas desertas
como oásis secretos
do outro lado dos meus pesadelos
Não quero mais a felicidade
Quero um corpo livre e incompleto
para o meu
Não quero mais a felicidade
Quero a língua viperina
e a boca vermelha
de baton e de ilusão
de todas as mulheres
Não quero mais a felicidade
Quero porque quero
Aberturas e sutilezas
Gritos e procuras
Gemidos e sussuros
e um orgasmo no final.