.

.

domingo, 15 de julho de 2018

Premonição

Procura-se uma alma
sem roupa sem cor sem forma
que fugiu de um corpo magro e sem calma.

Já que ninguém me informa
Vou eu
Um corpo sem eu e sem alma
à procura da minha alma.

Passeei pelas avenidas de mim mesmo
Pisei o solo onde germinam as lágrimas
Estive na maternidade dos meus gritos
E não avistei a minha alma.

Não vejo asfalto
Não ouço ruídos
Não percebo o rumo
É uma viagem sem caminho
É um mergulho num corpo sozinho.

Nenhum sinal
Nenhuma marca
Ninguém 
Nada
Silêncio
É a morte.

.................................................................................

Ecos de uma voz
Uma gargalhada?
Uma conversa?
O grito de um tropeço?
Peguei o atalho
Segui o ouvido
Agora reconheço.

É um choro
É uma birra
É uma criança assustada
De cabelos claros e rosto comprido
Sou eu 
É minha alma.

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Olhares sujos

Tantos olhos postos sobre mim.
Olhares doentes contaminados pelos fungos dos milênios e pela perversidão da genética.
Olhares pessoais, vistas parciais.
Julgamentos visuais, sentenças culturais.
Todos parecem saber quem eu sou.
E eu sou o que não me permitem parecer.
Tantos olhos postos sobre mim.
Olhos cataráticos,
Cristalinos comidos pelo preconceito,
Retinas viciadas em mitos e lugares comuns,
Olhos atentos e esbugalhados, óculos caros para paisagens baratas.
Olhos pintados para um mundo em preto e branco.
Tantas câmeras postas sobre mim,
Olhares podres e desumanos do controle e do poder.
Tantos filmes feitos sobre mim.
Tantos olhos postos sobre mim.
Eles é que me olham e eu é que me vejo.
Vivo o pesadelo do braille e das bengalas.
Estou em plena crise do laser e dos colírios.
Sou a névoa de um espectro na multidão.
Sou o que não interessa mais ver.
Não estou mais ao alcance dos olhos.
Estou no escuro e sou a minha própria luz.
Mais um homem invisível.
E tantos olhos postos sobre mim...
Poema© :JoaquimESTEVES