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sábado, 12 de dezembro de 2015

Avesso


Chovia lá fora
quando saí do botequim
Distanciei-me um pouco
e ouvi passos atrás de mim
Rodei o esqueleto
e me deparei com um homem
que era mais ou menos assim

Era um desses homens formosos
de cabelos azuis 
e olho louro atrevido
Não digo olhos
porque o infeliz me parecia surdo
de um olho e não do ouvido
Aliás, diga-se de passagem
era lindo
Parecia um batráquio
com sinais de miopía
nas trompas de eustáquio

Era um desses homens elegantes
Prêt-à-porter
Trajava calças de colarinho cor de urinol
Calçava sapatos de vidro fumê

Era um desses homens másculos viris
Um ferrabrás
que usava batom nas narinas da frente
e soutien nos tubérculos de trás

Era um desses homens magros bem talhados
Uma esbeltez
Com uma papada inchada 
que dava pra três
Com uma pança obstétrica
de trigêmia gravidez

Era um desses homens modernos
da geração fitness
Não usava bigode
tinha um beiço top-less
Era uma finesse
da cabeça aos péss

Aqui termino as memórias do meu último porre
Sem saber até hoje o que foi o que eu vi
Não sei se era só o efeito do porre
Ou se era mesmo real
esse homem que eu vi.

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