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terça-feira, 29 de setembro de 2015

Isso

Viver é isso
Errar o troco
Trocar um pouco
Levar um soco
Passar por louco

Perder o mapa
Achar a mina
Mudar de capa
Fugir p'ra China

Plantar azul
Colher amarelo
Rumar p'ro sul
Virar branquelo

Viver é isso.

Sonhar moinhos
Fechar o quarto
Cortar caminhos
Sofrer de fato

Tomar juízo
Perder os dentes
Conter o riso
Vender os pentes

Viver é isso! 

sábado, 26 de setembro de 2015

Jugular

Reconstituo o itinerário dos loucos furiosos
Que deliram e são normais

Queria ser como os que matam as moscas
O tempo e o bom da vida
 
Treino todos os dias
Os cães da minha revolta
Eu queria ser cruel

Perco o fôlego no oxigênio da minha
lucidez
Fico bêbado com o cheiro  da minha
história
Desmaio nos braços das minhas
sangrias
Eu tenho raiva

Faço a minha mágoa em pedacinhos
Destilo o açucar das minhas desilusões
E me enveneno com as gentilezas da minha
espécie

Queimo este absurdo comportado
Lavo as minhas convicções na água da chuva
E me perfumo no môfo das minhas esperanças
Eu tenho ódio

Canto no banheiro
A mentira e a merda
que brota de almas imaculadas
E está tudo podre

Dôo o puro dos meus olhos
aos que inventaram o mundo
Ofereço o meu coração ileso
à Bolsa de Valores 
e à ganância dos poderosos.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Money

Money one

Teus olhos são lindos zeros
Teus cílios, formosas vírgulas
O bolso é mais forte que o Eros
Meu amor, maior que os Calígulas

Amor, um C.D.B. na minha vida
És a commoditie desejada 
A Letra de Câmbio vencida
Minha Caderneta mui amada

Teu sorriso é um encantamento
Teus seios, o meu desterro
Teu traseiro, meu descarrilamento
No teu corpo aceita-se aterro

Tu que me deste venturas mil
Tu que foste minha Aplicação primeira
És meu lábaro, minha bandeira
És meu Banco do Brasil.
Money Two 

Pelas minhas contas 
Devo-te um I LOVE YOU
Mas não penses que me montas
Na cama terá que ser mais TRUE 

Tu que me chamas de embusteiro
E vives para me amolar
Mal sabes
Que um AI até vale um dinheiro
Mas um AH vale um dolar

As carícias estão em alta
Pois quero amanhã sem falta 
Todas aquelas todas aquelas apalpadelas
E dá-me o troco em roçadelas

Pelo que diz o jornal
A inflação é fatal
Terei que investir meu material
Em mais virgem matagal. 

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Milésima vomição - 1ª Edição


Escrevo pra ninguém
Mas falo para o mundo inteiro
E digo-me tudo o que não gostaria de escutar

Eu não queria escrever
Eu nem sei se gosto de escrever
Mas só quem sentiu um dia
Vontade de vomitar
Conseguirá me entender

E agora
Neste princípio de náusea
Neste começo de madrugada
Neste meio da rua
Nesta solidão e meia
E neste fim de espera
Não tenham nôjo do meu vômito
Não fui eu que criei o nôjo
Nem fui eu que inventei o vômito

Sirvo-me apenas
Das contrações involuntárias do meu espírito
Para expelir os restos desta comida ortodoxa
Que me enfiaram goela abaixo.

E entre os pedaços 
Que bóiam nesta golfada abjeta
Está a carne da minha revolta
Está o rabo do absurdo
Está a gosma da mentira
Está o braço da injustiça 
E os dedos intactos da morte.