.

.

sábado, 24 de setembro de 2016

Arauto irresoluto

Não sei o que faço

Nâo sei se escrevo mais um poema
Ou se rasgo os que já fiz

Não sei se bebo mais um trago
Ou se quebro todos os copos

Não sei

Não sei se cedo às evidências
Ou se me vacino contra as esperanças

Não sei se aceito a neblina da noite
Ou se desafio a escuridão

Não sei se devo voltar atrás
Ou se me deixo definitivamente em paz

Não sei

Não sei se procuro a cara metade
Ou se vivo pela metade

Não sei se me submeto a mais um sorriso
Ou se consinto mais uma lágrima. 

Não sei

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

A emoção em verso e prosa

 A EMOÇÃO EM VERSO

Emoção é oferecer a cara ao vento
É aprender a andar de moto
É saber aproveitar o momento
É sobreviver ao terremoto 

É esperar o amor que não vem
É relembrar uma noite que passou
É procurar um amigo que não se tem
É poder receber um amor que chegou

Emoção é ver nascer o filho
É ver morrer o pai
É ver florescer os campos de milho
É conhecer Shangai

É o primeiro beijo na boca
É o último olhar sobre a terra natal
É morrer e achar que a vida não foi pôca
É conseguir ir ao cinema com aquela 
mulher fatal 

Emoção é esperar a noiva no altar
É pedir o divórcio
É temer o abismo e saltar
É fazer um belo negócio 

É sentir-se só em Paris
É ser ferido por um raio de sol
É pensar no que não fiz
É gozar num certo e imaculado lençol

Emoção é estar no mundo
É lutar e não achar a solução
É não ter medo de ir bem fundo
É acreditar que viver ainda poder ser
a melhor emoção.
         E PROSA
A emoção é a vibração de um espírito em movimento. É a viagem diária da sensibilidade pelos corredores do âmago. É o resultado de uma sociedade sólida e indestrutível  entre o coração e os cinco sentidos. É o primado da pele sobre o princípio da racionalização.
A emoção é o descuido da razão ou uma bebida muito forte temperada com minúsculas doses de razão. É a resposta dos nervos às propostas do mundo exterior. É o mimetismo da alma; são as várias cores que a alma pode assumir ao tocar os acontecimentos. Emoção é a hipotalâmica sensação de estar no mundo.

Poema© :JoaquimESTEVES

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Canis laudem


Dizem que falo mal do mundo
Não falo bem nem mal
Digo o que o mundo é
 
Dizem que sou exigente
Não exijo nada
Quero apenas o que não existe por aqui
Amor sem sexo
Amizade sem interesses
Rostos sem máscaras
O mínimo de afeto sem taxas
E um pouco de sentido
Para todos os reféns deste absurdo inútil
 
Não acredito nas bravatas
das falsas companhias
E sei que de mim não escapo

Tenho pavor dos mistérios da vida
E não dou um centavo 
aos gigolôs da minha angústia
Assumo o preço de existir 
e pago à vista a minha conta metafísica
Tenho grave alergia a ilusões
e a mim
ninguém mais engana
com lorotas da Galiléia

Não suporto mais ter que ser medíocre
para ser reconhecido
Odeio assistir inerme ao triunfo dos idiotas
Sou vítima inocente da ganância   
Amargo os horrores da política
e o mal anda à solta

Tenho que nivelar por baixo
e fingir que me divirto  muito
na lama podre do chiqueiro 

Não tolero mais este teatro a céu aberto
Nunca consegui rir dos palhaços deste circo trágico
Conheço perfeitamente a diferença entre um sorriso e uma lágrima

Não creio na salvação dos fúteis
e desespero na superficie
porque moro feliz no abismo

Nunca  me senti em paz
com as deformidades da minha espécie
e louvo os cães 
que nunca vão embora. 

Antologia poética

Participo desta Antologia Poética que será lançada no mês de Setembro de 2016 pela Chiado Editora.

A indiferença do papel


Sempre suei livros
Sempre respirei palavras
Tenho nos olhos o sabor das tintas
Trago nos dedos o gosto do papel
O papel consente.

E de mulheres de papel
Fiz bacantes orgias
E de sonhos de papel
Fiz-me um futuro heróico
E com papel
Construí uma mansão arábica
de tesouros e quimeras
E em silêncio
O silêncio pressente.

sábado, 3 de setembro de 2016

Encontro adiado

Não gosto das mulheres que tenho
E tenho as mulheres de quem não gosto
E apesar do agosto
Aposto no oposto

Tenho um encontro marcado
à meia-noite
Com todas as mulheres
Na esquina da procura
E todas virão
Menos a minha.