Naquela única vez
Foi uma fábula - Era uma vez
Foi o acordar da química loca
Foi starry night
No céu da minha boca
Naquela única vez
Fiz música nos teus confins
Fiz um blue céu no teu blue jeans
Fiz de teus seios a batuta
Fui maestro nessa luta
Naquela única vez
Eram precisos olhos castanhos
Fomos iguais fomos estranhos
Foi mais que say grace
Foi bom
Foi face to face
Naquela única vez
Escapou-me o teu nome
Foi a a pressa foi a fome
Não importa
Valeu a pena
Minha doce minha anônima Madalena.
Chovia lá fora
quando saí do botequim
Distanciei-me um pouco
e ouvi passos atrás de mim
Rodei o esqueleto
e me deparei com um homem
que era mais ou menos assim
Era um desses homens formosos
de cabelos azuis
e olho louro atrevido
Não digo olhos
porque o infeliz me parecia surdo
de um olho e não do ouvido
Aliás, diga-se de passagem
era lindo
Parecia um batráquio
com sinais de miopía
nas trompas de eustáquio
Era um desses homens elegantes
Prêt-à-porter
Trajava calças de colarinho cor de urinol
Calçava sapatos de vidro fumê
Era um desses homens másculos viris
Um ferrabrás
que usava batom nas narinas da frente
e soutien nos tubérculos de trás
Era um desses homens magros bem talhados
Uma esbeltez
Com uma papada inchada
que dava pra três
Com uma pança obstétrica
de trigêmia gravidez
Era um desses homens modernos
da geração fitness
Não usava bigode
tinha um beiço top-less
Era uma finesse
da cabeça aos péss
Aqui termino as memórias do meu último porre
Sem saber até hoje o que foi o que eu vi
Não sei se era só o efeito do porre
Ou se era mesmo real
esse homem que eu vi.
Amo tua ptialina, tua saliva cristalina
Amo teu palato, tuas papilas, a tua vitamina
Amo teus ductos, tua seiva, tuas hemáceas
Amo tuas artérias, tua proteína,
tuas veias violáceas
Amo tua penugem, teu púbis sacro
Amo-te sem medidas, amo-te um amor macro
Amo teu óvulo mensal
Amo teu sangue menstrual
Amo todos os átomos
que fazem de ti
uma bomba anatômica.
Os meus olhos pretos
Não são pretos
São duas gotas de escuridão
Nos meus olhos é de noite
E foi por não poder fechá-los
Que um artista das sombras
Gravou neles
toda a história do escurecer
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Os meus olhos pretos
Não são pretos
São os teus na minha cara
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Nos meus olhos é sol nascente
E foi de tanto abri-los
Que uma menina da luz do sol
Derramou neles
a lentidão exata do amanhecer.