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sábado, 18 de junho de 2016

Domingos de sol

Seis horas da tarde
nesta remota filial do inferno

Chove 
Chove uma chuva zangada
sobre os caldeirões em brasa viva

Fui à praia
O sol bateu-me o dia inteiro

Sinto-me queimar
Ardo e me desintegro

Minha revolta é uma fogueira
que se alastra e me mata

Cada labareda é um minuto de revolta
que guardei silente e quieto
num lugar fresco e arborizado

Percebo atento
cada movimento das chamas

Observo-me crepitar e enegrecer
Neste incêndio sem bombeiros

Foi a pomba da minha alma
incendiária e impulsiva
que riscou o fósforo e me destruiu

Morro hoje infeliz
e experimento apesar de tudo
o gosto pacífico da terra molhada
pela chuva farta dos meus olhos.

Rio de Janeiro, 22 de Janeiro de 1999