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quinta-feira, 26 de maio de 2016

Doce lar


Hoje 
Eu fiz uma fantasia
tão sinistra 
quanto uma calamidade pública
tão secreta
quanto as dores quietas
de uma cabeça sózinha
nas guerras da noite.

Quis perder tudo
para voltar à origens
Perder o dinheiro
Perder a memória
Desesperar um desespero total
tão grande e tão absoluto
onde não sobrevivesse 
o último facho de luz
de todas as minhas estúpidas esperanças

E aí
Rasgava as roupas
e livrava-me da minha importância
e do delírio
que me ensinaram a delirar
Procurava o mar 
como quem procura Deus
fanática e alucinadamente
E sem saber nadar
encontraria finalmente o nada
e um útero fresco e estéril
para esquecer e repousar 

sábado, 21 de maio de 2016

O preço da chuva

Será sempre bom
Reencontrar os meus verdadeiros caminhos
E os meus mais secretos atalhos
Poder pisá-los com os meus pés descalços
Poder enxergá-los
Com os teus olhos híbridos e volúveis
Quase verdes
Quase cinza
E quase meus.

E será sempre bom
Pairar sobre a alegria
Como uma ave de rapina
Sem garras para tanto
Sem satisfação para tão pouco.