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sábado, 29 de julho de 2017

Poema raso


E lá vem você 
Lá vem você atrapalhar a minha solidão
Você não quer saber de mim
Quer apenas uma testemunha para a sua angústia
E uma sombra para o seu desamparo.

E lá vem você
Lá vem você atrapalhar a minha solidão
Você que acha que eu sou a sua liberdade
E que morre de medo de si mesmo
Coitado de você!
Que precisa distrair os seus fantasmas
Você que ergueu as grades do seu íntimo
E decidiu que o mundo só está lá fora.

E lá vem você
Lá vem você atrapalhar a minha solidão
Você que não para de fugir
E só está bem onde não pode estar.

Você não quer saber de mim
Procura falsos interlocutores
E é perito em autopropaganda..

E lá vem você
Com esse hálito de Ego inflado
fingindo que está preocupado comigo
Minta pra si próprio
Pra mim você não mente.

Eu sou só 
Eu estou só
Aceito e vivo bem.

E lá vem você
Lá vem você atrapalhar a minha solidão.

quinta-feira, 27 de julho de 2017

A revolução dos perfumes


Chegará o dia
Em que jovens odores 
Vão ondular no ar.

Novos eflúvios, aromas, olências e emanações
Modernas fragrâncias, recendências e bálsamos.



Sentiremos também feder o fungo da mágoa
A catinga, a pestilência,  a  inhaca,
o hircismo, a caxinga, o mutum, a graveolência e a fetidez das almas doentes. 

Chega de cheiros de  pênis e vaginas 
A alma tem que ter cheiros.

E não seriam novos se não tivessem
os indícios da alma
Na revolução
Saberemos exatamente de onde provem o odor.

Não adianta perfumar o corpo
se a alma fede
Se há alma 
Ela tem que ter cheiro
Chega do monopólio fascista do corpo.  

Quero o essencial para o meu olfato
Quero sentir o perfumoso buquê
E fugir da fedentina das almas podres. 

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Ode ao porco

"Os porcos são os outros."

Jean-Paul Sartre

Dentro de mim mora um porco enlameado e estúpido como o Capitalismo. 
Nos chiqueiros de meu âmago, chafurdam narinas ofegantes e sôfregas de brancuras, purezas e outras coisas alvas.

Minh’alma é um torresmo que saltita descompassado nos panelões inatacáveis e inoxidáveis da Burguesia.

Porcos do mundo inteiro, 
porcos que como eu penam e emagrecem nos porqueirais monetários da devassidão, 
saibam que o presunto e a feijoada não são o nosso destino Culinário-Metafísico.