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quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Rotinas insólitas

Paira sobre nossas cabeças
o rastro de uma névoa tênue e fugaz
quase tão invisível quanto o nada

Tudo é tão incerto 
quanto o não dito

O mundo faz as caretas de costume
e é feio e assustador 
como as verrugas da bruxa

Não há sentido
no fluxo desatinado 
dos que dão passos firmes
sobre as pedras regulares da civilização

Apesar das evidências que nos esmurram a cara
prosseguimos

Avançamos ensandecidos
pisando raivosamente o peito 
dos nossos cadáveres mais diletos
O chão é um tapete de dor e morte

Reconheço pelas feridas
o corpo desfigurado da minha última esperança
Arranco a espada fria
que trespassou a carne do meu amor mais robusto
Escorrem as lágrimas dos meus olhos de menino
Tenho as rugas e a palidez
Tenho o cansaço e as calças curtas
Tenhos os cabelos brancos 
e a brancura dos sonhos intactos

Estou vivo
Estou morto
Percuto o espaço
fingindo-me desinteressado
em busca de um sinal

Por instantes
Enlouqueço
E como os que já desesperaram
bebo o sumo da mais imaculada loucura
e sento-me na praça à espera de Deus
Deus é para os que já não têm mais cura 

Apesar de todos
trago nos ventrículos uma esperança genética
tão saudável quanto a minha boca
 
Paira sobre nossas cabeças
o rastro de uma névoa tênue e fugaz
quase tão invisível quanto o nada

Tudo é tão incerto 
quanto o não dito

O mundo faz as caretas de costume
e é feio e assustador 
como as verrugas da bruxa

Não há sentido
no fluxo desatinado 
dos que dão passos firmes
sobre as pedras regulares da civilização

Ofendo o céu com a ponta do meu olhar
Procuro um sinal.

Rio, Maio de 2005

Poema© :JoaquimESTEVES

2 comentários:

  1. Gostei muito, identifiquei-me com cada verso. Não só com o que diz, mas como diz. Parabéns, Joaquim. Abs, ótima sexta.

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