Não falo bem nem mal
Digo o que o mundo é
Dizem que sou exigente
Não exijo nada
Quero apenas o que não existe por aqui
Amor sem sexo
Amizade sem interesses
Rostos sem máscaras
O mínimo de afeto sem taxas
E um pouco de sentido
Para todos os reféns deste absurdo inútil
Não acredito nas bravatas
das falsas companhias
E sei que de mim não escapo
Tenho pavor dos mistérios da vida
E não dou um centavo
aos gigolôs da minha angústia
Assumo o preço de existir
e pago à vista a minha conta metafísica
Tenho grave alergia a ilusões
e a mim
ninguém mais engana
com lorotas da Galiléia
Não suporto mais ter que ser medíocre
para ser reconhecido
Odeio assistir inerme ao triunfo dos idiotas
Sou vítima inocente da ganância
Amargo os horrores da política
e o mal anda à solta
Tenho que nivelar por baixo
e fingir que me divirto muito
na lama podre do chiqueiro
Não tolero mais este teatro a céu aberto
Nunca consegui rir dos palhaços deste circo trágico
Conheço perfeitamente a diferença entre um sorriso e uma lágrima
Não creio na salvação dos fúteis
e desespero na superficie
porque moro feliz no abismo
Nunca me senti em paz
com as deformidades da minha espécie
e louvo os cães
que nunca vão embora.
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